sexta-feira, 25 de março de 2011

grito

Foto de A. G.

(para as minhas filhas Sara e Inês)

o meu silêncio é de pedra.
agora neste tempo virtual
quando as palavras se soltam
ao acaso dos dias
correndo de boca em boca
sem qualquer valor no mercado
da vergonha desperdiçadas
ao vento como pérolas
atiradas a porcos nem que de Ulisses
se saiba alguma nova
aqui neste lugar estreito
onde as gentes se acotovelam
num bulício histérico
cantando desafinadamente
um suposto caminho de uma
glória epifânica
que há-de parir um rato
agora e aqui num grito
de vísceras e de sangue
carregado de afasia
diante da estuporada memória
que não matarei:
o meu silêncio é de pedra.
só pode ser de pedra.

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