terça-feira, 8 de março de 2011

carta perdida




Ex.ma sinhora
Doutora dona Ana Luíza Amaral
Minha sinhora, quero neste dia que é nosso dar-lhe os parabéns por ter iscrito outra vezaquele livro que á muitos anos fez de mim mulher feliz e chorei tanto tantas lágrimas que não cabia em mim de emoçom ao ver que havia quem desse valor a mulheres assim como eu sem instrussom e a esfalfarem-se de trabalho para satisfazerem os filhos na boca e os homens na cama. Não fui eu quem o li já se vê mas uma das patroas onde eu andava a dias e a única qualém da paga certa ao fim do mês me respeitava com modos que eu nunca conheci e por isso me contava coisas de livros e políticas que dizia ela que eu não podia deixar que me pusessem o pé em cima do cachasso. Ora depois deu-se o 25 de Abril e foi assim que eu percebi milhor o que ela me tinha explicado e cumprendi ter porque veio o meu irmão de Moçambique com um desarranjo na cabeça quinda agora dura e passa os dias sentado numa cadeira a abanar a cabeça e a gente sem saber o que lhe fazer. Mas eu não estou aqui para lhe falar destas desgraças que toda a gente as tem a fazer-lhe perder o seu tempo e queria só dizer-lhe que chorei outra vez em tantas partes tanto como da primeira, agora a saber que fica tudo explicado para que a gente nova saiba o que nós passamos e não deixem botar por água abaixo as liberdades que agora tenhem e não se ponham pr’aí com cantigas porque um dia levam uma traulitada que deus nos acuda de tal agouro. Por isso vou despedirme com muito agradecimento e admirassão pelo seu trabalho que eu sei reconhecer que é tão importante como lavar a casa dos outros. Desejo-lhe muita saúdinha a si e aos seus, esta que se assina

Maria


Sem comentários: