- Anda cá, minha puta!
- Respeitinho é lindo e eu gosto!
- Gostas?! Pois então vais
esperar sentada, porque respeito por ti é coisa que não consigo sentir.
- ….
- Olha para mim! Olha! Já não
saio desta cama há mais de uma ano. Não consigo comer sozinha, cago-me e
mijo-me sem controlo. E tu estás à espera de quê?
- De nada.
- Ai não? E andas por aí a
brincar às escondidas, é?
- Não sei do que está a falar.
- Eu explico-te: estou a falar do
Jorge, do Paulo, do João, da Isabel, da Francisca, da Maria… de tantos,
ouviste? Tantos!
- A vida é assim.
- Ai é, sua puta?! É o caralho! É
a vida e a morte uma e a mesma coisa, vivida a vida. Vive-se e por isso
morre-se. Mas quando ainda mal a vida deu frutos, quando ela nem a meio caminho
vai… ! Ein? Que morte é essa? Explica-me que eu estou a perder a paciência. O que faço eu aqui? Ainda tenho que viver para quê? Para quem?
- Isso não está nas minhas mãos.
Nem nas suas.
- Vais dizer-me que está nas mãos
de um deus a quem nunca vi a cara? Ora foda-se!
- Se não acredita, o problema é
seu.
- Não. Eu não tenho problema
nenhum, porque não tenho problemas com quem não conheço e muito menos com quem
não existe. Mas tenho um grande problema contigo. Ai isso tenho!
-…
- Se não tens nada a fazer, desanda daqui, antes que me atire ao chão.
RUA! …
ANDOR! …
VASA! …
(Chega a empregada do lar, aflita com a gritaria e uma injeção pronta
para acalmar a D. Emília. Mas quando se aproxima da cama, ela dá-lhe uma
dentada no braço, bem forte. A Zézinha desequilibra-se, com as dores e a D.
Emília, em total desvario, solta um estertor e cai abaixo da cama, finalmente
morta.)