sexta-feira, 26 de agosto de 2011

de regresso a Ítaca


com Kavafis na foz do douro
retardo um pouco mais
o regresso a Ítaca.

gritam de branco
as gaivotas sugerindo
a agilidade do amor
sobre as ondas
outrora safiras
atiradas aos deuses

agora
com Kavafis na foz do douro
é já um corpo tisnado
de sal que apreende de
vagar o sentido de Ítaca.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

tempus


(para a Ana Luísa e a Migui)

tenho um arroz de forno
no meu horizonte
que me sugere
metáforas de afectos
um arroz de frango
com textura de terra
risadas soltas
escorrendo pelo
tinto maduriense
a afagarem-me olhos e falas
fêmeas numa língua
partilhada pelo
signo da amizade
cerzida entre
kronos e kairos.

assim guardarei no
presente do futuro
pedacinhos de ossos
e de lúcia lima
que me alimentaram
o devir antecedente.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

"contrariedades"



não há como designar
com substantivos abstractos
os gumes afiados
que rasuram a brancura dos meus dias
ensanguentados de mortos famintos
e de violência londrinamente obscena.
tudo se resume
a uma janela indecorosa
degradada
sobre a cal
e as palavras saem-me
azedas destas
mãos enrugadas
de vergonha.

domingo, 7 de agosto de 2011

para além de


na rota do silêncio
revisitei os meus labirintos
com a lentidão de uma viagem homérica.

perguntei por mim
às oliveiras e riachos
às sombras dos chaparros
e todos confirmavam
o meu desaparecimento.
nem novas nem sussurros
ou palavras soltas.

é bom saber que
a música serpenteia
para lá da humana condição.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011